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O Neurocientista

          Angelo sempre gostou da natureza, principalmente de animais, e era extremamente curioso. Sua família, percebendo suas características de cientista nato, montou para ele no quintal um pequeno laboratório. Angelo também tinha autorização do pai para comprar todos os livros que quisesse. Começava, assim, uma carreira de amor a natureza e a ciência. Como adolescente, estagiou na Fundação Osvaldo Cruz, sob a orientação do famoso patologista Lobato Paraense, onde aprendeu técnicas histológicas e de microscopia conhecidas na época. Na hora de escolher sua profissão, em 1953, Angelo, já autor de algumas publicações científicas, conta que pensou em fazer história natural, mas esse curso não era bem sedimentado na época. Assim, optou por fazer medicina, já voltando seu interesse para a área das ciências básicas desde o início do curso. Descobriu sua nova paixão: a Anatomia, mais especificamente a Neuroanatomia. Não foi surpresa quando ao se formar optou por não seguir a carreira médica, mas sim se dedicar a nova paixão.

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           Sua entrada na Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG, em 1959, a convite do professor Liberato João Afonso DiDio, fez com que Angelo começasse a lecionar Anatomia. Logo passou a Neuroanatomia, segundo ele, uma área ainda desconhecida que o levava diretamente à histologia, à célula. Foi graças ao seu brilhantismo que a Neuroanatomia na UFMG (e porque não dizer no Brasil) floresceu, pois ninguém queria ensiná-la e poucos queriam aprendê-la. Angelo criou uma disciplina separada e independente da Anatomia. Como não havia material didático adequado, passou a compilar materiais existentes em outros países para preparar suas aulas. Disso resultou uma serie de apostilas que, em 1974, se tornou o famoso “Neuroanatomia Funcional”, livro fundamental no ensino da Medicina e de diversas outras profissionais. Já como professor de Zoologia, resolveu revistar sua paixão e lançar uma edição revisada do livro, com ajuda de sua filha neurologista Lúcia Machado Haertel. Sua didática fenomenal, trazendo clareza para um assunto inóspito, fez com que muitos se apaixonassem pela Neuroanatomia e optassem por seguir esse ramo da ciência como profissão. Seu jeito brincalhão, mas responsável, de ensinar fez com que fosse inúmeras vezes homenageado pelos alunos de Medicina e de outros cursos. Sua contribuição à Medicina foi amplamente reconhecida: mesmo sem nunca ter exercido a profissão se tornou um imortal da Academia Mineira de Medicina.

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            Junto a suas brilhantes atividades de ensino, Angelo contribuiu decisivamente para o crescimento da neurociência, por meio de suas linhas de pesquisa. Fundou o laboratório de Neurociências na UFMG e a sua primeira estagiária foi Conceição, sua aluna no curso de Medicina. Uma parceria que, além de render diversas publicações em revistas internacionais, resultou no amor eterno quando se casaram em 1964. Ambos fizeram pós-doutorado na Northwestern University em Chicago, onde aprenderam novas técnicas para o estudo do sistema nervoso, com ênfase na microscopia eletrônica. Quando retornaram ao Brasil, consolidaram o laboratório de Neurociências da UFMG e contribuíram para criar o Centro de Microscopia Eletrônica do Instituto de Ciências Biológicas. Os segredos dos tecidos do organismo, relevados por meio do estudo da histologia e da histoquimica, acompanharam o casal por décadas. Foram inúmeros seus trabalhos com mapeamento histoquímico, voltados para o entendimento do funcionamento do sistema nervoso, estudos de vias de transmissão neuronal e seus neurotransmissores. Foram pioneiros na diferenciação histoquímica entre neurônios serotoninérgicos e noradrenérgicos. Publicaram trabalhos sobre o ritmo circadiano de serotonina e histamina na pineal, inervação de glândulas salivares, lacrimal e tireoide. Outra contribuição inédita foram a identificação do conteúdo das vesículas sinápticas. Muitos dos seus trabalhos versaram sobre o envolvimento do sistema nervoso na doença de Chagas, doença que acometia, e acomete, tantos brasileiros. Ambos alcançaram o mais alto nível de pesquisador do CNPQ (1A) e tornaram-se membros da Academia Brasileira de Ciências, uma distinção reservada a intelectuais que prestaram significativa contribuição para o conhecimento científico. Publicaram em torno de 140 trabalhos inéditos na área de Neurociência em revistas internacionais, além de orientarem várias dissertações de mestrado e teses de doutorado, formando, assim, vários seguidores.

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