O Escritor
Angelo conta que, quando se aposentou da Neuroanatomia e fez novo concurso para zoologia, transformou o hobby de sua vida em profissão. Brincava que um homem não deve viver sem hobby e, por isso, começou um novo: escrever livros infantis e peças de teatro.
Vindo de uma família de escritores, e tendo toda sua vida usado de imaginação para criar e inspirar, a transformação do novo hobby em sucesso foi natural. Exemplos não faltaram: sua tia Lucia Machado de Almeida, sua prima Maria Clara Machado e seu tio Aníbal Machado, todos nomes importantes na literatura brasileira. Mesmo o pai, Paulo Machado, se aventurou nas letras escrevendo um livro, premiado na época, sobre sua infância “Menino Feliz”. Angelo brincava que o estranho era ter aparecido um cientista na família, não um escritor.


A história de vida muitas vezes se expressa na vida literária e com Angelo não foi diferente. Seu primeiro livro, em 1989, e muitos que se seguiram, foi motivado pela natureza e pela necessidade de a proteger. “O menino e o rio”, um primor da literatura infantil, também educa. Conta Angelo que a primeira versão do livro ficou chata... Sem querer, ele usava linguagem científica. Mas resolveu contar a história, como tantas já havia contado, para uma criança imaginaria, usando um gravador, arma que utilizou para seus livros até o fim de seus dias. A versão gravada? Um sucesso! Angelo diz que sofreu preconceito em sua vida inicial de escritor por ser cientista... A primeira editora recusou “O menino e o Rio”. A justificativa: não servia como literatura porque ensinava coisas e não servia como ecologia porque tinha bicho que falava. Preconceitos superados com uma nova editora, hoje o livro tem mais de 25 edições e ainda é um dos livros infantis de maior sucesso da Editora Lê.
Essa mistura fantástica de conhecimento cientifico com imaginação de escritor resultou em diversos momentos sublimes. Um deles a versão machadiana do “O Chapeuzinho Vermelho”, livro centenário e estudado cientificamente por Angelo como um dos pilares do medo infantil da natureza. Quem teme não protege, quem ama protege, era um dos lemas do divulgador de ciências. Pois bem, Angelo escreve “O chapeuzinho Vermelho e o lobo-guará”. Quem poderia dizer que lobos brasileiros preferem frutas a carne? Somente zoólogos. E agora? Qualquer criança que ler o livro e ver o lobo preferir uma melancia a comer a pobre menina. Essa genialidade foi agraciada com o Prêmio Adolfo Aisen de Literatura Infantil, da União Brasileira de Escritores, em 1995. Ganhou o prêmio Jabuti com o livro “O velho da montanha, uma aventura amazônica”. Ganhar esse prêmio em seu início de carreira como escritor foi um estímulo para saber que estava na direção correta, inovando a literatura brasileira. Nesse livro, trouxe conhecimentos da época em que viveu com os índios Tirió. Fez outros livros com cunho histórico como "O tesouro do quilombo", que recebeu o selo de Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e "Os fugitivos da esquadra de Cabral".
Sua cara séria sempre contrastou com seu espírito divertido. Dizia Angelo que um dos segredos do humor é o contraste. Assim, ver Angelo contar histórias engraçadas, com aquela sua cara alvo de caricaturas e sua voz fanhosa por si só já valia o riso. Isso fez com que o humor também permeasse seus escritos. Escreveu o livro “Como sobreviver em festas com buffet escasso” um primor do humor, transformado depois em peça de sucesso nas mãos do artista Carlos Nunes. Publicou artigos e frases de humor em diversas revistas, tendo tido participação especial na revista “Bundas” capitaneada pelo amigo Ziraldo. Seu jeito espetacular chamou a atenção do humorista Jô Soares, em cujo programa esteve sete vezes, garantido boas risadas ao público como poucos convidados conseguiram.
Angelo sempre reforçava o papel fundamental do escritor infantil: crianças que não aprendem a gostar de ler não vão ser adultos leitores. Um adulto leitor sempre vai dar chance a outro livro. Um livro infantil chato pode fazer com que a criança não mais queira ler. Angelo escrevia para fazer crianças gostarem de ler. Se aprendessem a amar a natureza enquanto liam era uma vantagem adicional.
Com esse estilo único e inovador ao misturar literatura com ciência e ecologia de forma sutil – afinal, de acordo com ele, “criança não lê coisa chata” – publicou 45 livros que revolucionaram a literatura infantil. Fez por merecer sua indicação a Academia Mineira de Letras. Pela sua obra, recebeu o prêmio José Reis de Literatura e o reconhecimento do CNPQ como divulgador de ciências para crianças. Angelo continuou trabalhando até o final da vida, sua última obra o livro “O Tratado de Guerra”, para adultos, construído ao longo de anos durante as férias da família, foi publicado recentemente pelos filhos. Seu última obra inacabada, conta pérolas de suas viagens pela Amazônia e pelo mundo, com todo seu bom humor tão característico.

Lista de Livros
Infantis
A barba do velho da barba
A festa de aniversário da Aline
A patinha feia
A viagem de Tamar, a tartaruga verde do mar
Chapéuzinho Vermelho e o lobo-guará
Douradinho, douradão, rio abaixo, rio acima
Estraladabão-tão-tão, o trovão
Gente tem, bicho também: dente
Gente tem, bicho também: garganta
Gente tem, bicho também: língua
Gente tem, bicho também: nariz
Gente tem, bicho também: olho
O boto e seus amigos
O casamento da ararinha-azul: uma história de amor
O dilema do bicho-pau
O esquilo esquecido
O livro do pé
O menino e a rã
O menino e o rio
O ovo azul
O quarto porquinho
O rei careca
O vô e o vento
Que bicho fez o buraco?
Que bicho será que a cobra comeu?
Que bicho será que botou o ovo?
Que bicho será que fez a coisa?
Será mesmo que é bicho?
Infantojuvenis
A outra perna do Saci
Cristovão e os grandes descobrimentos
O tesouro do quilombo
O tesouro do rei
O velho da montanha: uma aventura amazônica
Os fugitivos da esquadra de Cabral




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Adultos
Livros científicos
Borboletas eróticas
Manual de sobrevivência em festas e recepções com bufê escasso
O humor do show medicina
O tratado de guerra
Neuroanatomia funcional
Livro vermelho das espécies ameaçadas de extinção em Minas Gerais
A lista vermelha da fauna brasileira ameaçada de extinção
Áreas prioritárias para conservação em Minas
Peças de teatro
Chapéuzinho Vermelho e o lobo-guará – a peça
O casamento da ararinha-azul – a peça
O menino e o rio – a peça
O rei careca – a peça